Anos de Crise
Dois milhões de desempregados em todo o país foi o saldo deixado em 29 pela grande depressão que teve como símbolo o craque da Bolsa de Nova Iorque e, no Brasil, a supersafra do café. Em São Paulo e no Rio, 579 fábricas fecharam suas portas, por falta de compradores para seus produtos. A crise econômica e política estendeu-se pelos anos 30, aumentando o desemprego e reduzindo os salários.
O povo brasileiro toma conhecimento de uma nova Constituição da República, regulamentando a implantação definitiva da ditadura ou Estado Novo. Era o tempo da censura, de muita insegurança e o Estado regia tudo, a economia a política, a cultura e a moral. A política centralizadora do Estado assumiu um sentido industrializante e fortaleciam-se as novas camadas da burguesia industrial.
O Rio de Janeiro em 1930 é a sede do Concurso Internacional de Beleza e o assunto é saber quem receberá o título de Miss Universo e a gaúcha Yolanda Pereira é a vencedora. Mais adiante, a mulher brasileira assume papéis singulares na Revolução de 32.
O governo de Vargas, com decreto, instituiu o voto secreto e a sua extensão às mulheres. O acelerado desenvolvimento industrial, aliado ao crescimento da radiodifusão, do cinema e ao surgimento de novas revistas femininas, vai ampliando a participação da mulher.
Em 1932 o governo autoriza a veiculação de propaganda e com a introdução do patrocínio de anunciantes, aparecem os programas de variedades, que transformam o rádio em fenômeno social, influenciando o comportamento das pessoas e ditando modas.
Aurora e Carmem Miranda, Araci de Almeida, Alzirinha Camargo, Dalva de Oliveira, Linda e Dircinha Batista, Mário Reis, Chico Alves, Lamartine Babo, Noel Rosa, Orlando Silva e Vicente Celestino foram os grandes ídolos da geração de 30.
O cinema exerceu um papel fundamental no processo de liberação da mulher e encantada com os hábitos de vida americana e européia, começa a ser dona do seu destino.
A moda dos banhos de praia e piscina começa a formar um novo padrão de beleza: a pele bronzeada. Os maiôs mais ousados deixavam à mostra os ombros e uma parte maior das coxas. A moda está mais comportada, mais sisuda e menos irreverente.
As cinturas voltam para o lugar, as saias descem até o meio da perna e as silhuetas são adaptadas às diferentes ocasiões. Já se notava uma certa preocupação em adaptar as grandes tendências de moda ditadas por Paris, para o nosso clima.
As divas do cinema continuam as maiores inspiradoras: Joan Crawford, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Bette Davis, Mãe West e Jean Harlow.
Gabrielle Chanel adotou para a noite rendas, brilhos e babados e para o dia, roupas práticas e adequadas: calças compridas, suéteres e vestidos de malha, para acompanhá-los a “jóia-falsa”, as finas bijuterias. Os comprimentos ficavam na altura da barriga da perna, alongando o corpo.
A moda feminina se aproxima das tendências masculinas. Os tailleurs apresentavam-se com enchimentos fazendo ombros quadrados, boleros, uso de saia e blusa e de roupas íntimas mais refinadas e sensuais.No inverno usava-se paletós, capinhas curtas, capas, manteaux compridos e as peles ainda eram muito usadas.
A idéia de se combinarem os acessórios de couro surge nessa época. Luvas, cintos, sapatos e bolsas precisam combinar entre si ou ser de um mesmo tom e chapéus variados. O estilo da mulher da década de 30 sofre as influências do despojamento do Art Déco, com seus conceitos de funcionalidade e depuração das formas.
Os novos atributos decretam a redução dos seios e quadris. Os cabelos agora são frisados, mas permanecem curtos. A maquilagem se acentua e a mulher aristocrática, fina, harmoniosa, jamais se vestiria de vermelho, de azul berrante, de amarelo vivo, de cores vibrantes, o espírito raffinés prefere nuances delicadas.
Em 39 Hitler invade a Polônia e tem início a II Guerra Mundial.
Os anos 30 do século XX chegaram com uma enorme crise financeira mundial. A queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, deixou o mundo com problemas financeiros seríssimos. Paradoxalmente à crise econômica a moda refletiu um momento de grande satisfação, luxo e esplendor.
O cinema cada vez mais bem posicionado, refletia no comportamento de moda. O uso de tecidos sintéticos foi significativo, apesar dos de fibra natural não terem sido esquecidos. O grande tecido de moda que serviu como identidade dos anos 30 foi o cetim.
A grande moda mesmo foi do corte godê, evasê, o do corte em viés, introduzido à moda por Madeleine Vionnet (1876-1975), numa modelagem rigorosa.
A valorização das costas foi realmente a grande identidade da moda dos anos 30 e os shorts começaram a aparecer na moda feminina devido tanto em razão da prática esportiva quanto ao hábito do banho de mar.
A imagem da moda é da estrela hollywoodiana. Desde a época áurea do cinema mudo, as telas fornecem não apenas padrões, mas modelos, aspirações para moças em todo o mundo. O cinema, entretanto, é controlado pelas regras moralistas; assim, os comprimentos baixam (também em reação natural aos vestidos mais curtos da década anterior). De dia é o mi-molet (no meio a panturrilha), e à noite é o longo.
Os filmes introduzem uma imagem de mulher mais velha, cheia de mistério e glamour, com padrões de fotogenia baseados em ideais gregos de beleza e proporção. As formas gregas aparecem igualmente nos drapeados de ícones da moda como Madeleine Vionnet e madame Grés. Outras mulheres se tornam exponenciais, como Jeanne Lanvin, Nina Ricci e Elsa Schiaparelli, além de Coco Chanel, cujas criações, figura de modo de vida simbolizam a época. Madeleine Vionnet (1876-1975) inventa o famoso corte no viés (contra o fio do tecido, o que resulta num caimento drapeado, mais suave, perfeito para os vestidos de festa), que o inglês John Galliano virá a recuperar nos anos 90. As mulheres continuam sob dieta, e as mais ricas vão a resorts e fazendas para emagrecer - os spas de hoje. Espalha-se a febre dos salões de beleza. Os cabelos crescem, ganhando ondas e curvas. A cor “oficial” é o platinum blond (louro-platinado).