 |
| Karl Lagerfeld: "Influência para mim, é cópia." |
O estilista Karl Lagerfeld aceitou o desafio de ser editor-chefe do jornal Metro por um dia e o resultado é a edição desta terça-feira, dia 7/2.
Leia a seguir uma entrevista com o ícone, que revela sua personalidade singular que impactou e continua causando sensação no mundo da moda.
17 perguntas para o Kaiser
São cinco da tarde e estava marcado para Karl Lagerfeld chegar às três e meia. Com esse atraso, eu e sua equipe de imprensa ficamos esperando em seu escritório particular, na Rive Gauche, tomando sorvete Magnum, marca para a qual ele faz os comerciais.
Eu tento não sujar nada de chocolate e olho as biografias de Chagall, Duchamp e Dali, apenas alguns dos títulos que compõem quatro paredes brancas cobertas por livros. Um funcionário me oferece uma garrafa de Diet Coke rosa estampada com a sua silhueta em miniatura. A arte foi desenhada por Lagerfeld. Eu coloco o refrigerante em um elegante copo em forma de cubo.
Finalmente, o mestre Lagerfeld chega. Com olhar impenetrável através dos óculos escuros. Bem-vindo ao mundo de Karl, uma mistura contraditória de antiguidade e modernidade.
Prazer em vê-lo novamente. Você já leu todos esses livros?
Sim, mas você sabe que a maioria dos livros é só para olhar, esta não é uma biblioteca com livros de leitura. Meu arquivo de leitura está em outro lugar. Eu não comprei os livros para fazer um papel de parede, mas se pode passar horas olhando para eles. Quando eu estou atrasado, não me sinto muito culpado porque acho que as pessoas têm muita coisa para olhar, para aprender. Os atrasos são inevitáveis, porque quando a primeira consulta atrasa, eu me atraso o resto do dia. Eu tinha um compromisso às 11h e chegaram ao meio-dia e meia. O que fazer, hum?
É bom saber que você é humano.
Eu não sou tão humano. Mas tenho os pés no chão e me sinto mais humano por isso.
Você está prestes a relançar a marca Karl Lagerfeld com duas coleções, sendo que ambas serão vendidas on-line e uma delas é muito acessível. Por que agora?
Nos dias de hoje é muito mais fácil usar tecidos decentes sem gastar tanto. Isso é bom. Na época em que assumi a H & M, todos disseram que não daria certo. Mas funcionou. Quando assumi a Chanel, todos disseram que não daria, porque era um negócio morto. Também funcionou. Então é melhor eu não ouvir ninguém e seguir apenas meus instintos. Sobre a acessibilidade dos produtos: enquanto estava na H & M, havia público para produtos mais baratos. Mas as roupas benfeitas têm um custo e não podem ser vendidas por um preço muito baixo.
Você gasta muito tempo na internet?
Não que eu gaste muito tempo, mas o tempo passa tão rapidamente que nada é muito tempo.
Você já comprou algo on-line?
Não pessoalmente, mas todos ao meu redor que usam a internet fazem isso por mim. Eu não dou o número do meu cartão de crédito e outros dados.
Vida de Karl Lagerfeld.
Eu não faço reuniões, elas me aborrecem até a morte. Eu nunca vou fazer reuniões. Sabe para que servem?
Não, para quê?
Justificativa de salário. É por isso que as pessoas se encontram por horas
Qual é a sua resposta para as pessoas que dizem que você faz colaborações demais?
Eu não poderia me importar menos.
Você é conhecido por ser uma pessoa que sempre olha para o futuro. Mas existem momentos dos quais você sente saudades?
Eu não tenho arquivos. Não interessa o que eu fiz, eu só estou interessado no que estou fazendo.
Você já influenciou muitas pessoas. Quem o influenciou?
As pessoas não são influenciáveis. Influência, para mim, chama-se cópia. Eu sou como uma antena de TV.
Você assiste muito a televisão?
Eu gosto de estar na TV, mas eu não assisto a TV. Eu não tenho tempo para isso e odeio vozes. Eu gosto de música ou de cantar, mas eu odeio as vozes e as histórias. Tenho a sensação de que elas entraram na minha vida. Prefiro viver na minha imaginação.
Você vive em seis lugares diferentes. Onde estão os seis lugares?
Eu tenho uma casa onde moro e faço meus esboços. Aqui é meu escritório. Tenho um espaço para entretenimento. Mais o meu estúdio de fotografia e tenho dois apartamentos para hóspedes, porque não quero receber ninguém em casa, acho promíscuo.
Falando de promiscuidade, você tem um grande apetite sexual?
Oi? Eu quero que você repita isso.
Você tem um grande apetite sexual?
Não, eu não tenho muito interesse nisso. Só tenho relacionamentos rápidos.
Rapidinhas podem ser divertidas.
Bom, bom, bom! Acho que você fala como os europeus [risos]. Eu acho que o sexo é um assunto superestimado.
Mas é a maneira francesa.
Você sabe, eu não sou francês. Estou um alemão sangrento.
Quando foi a última vez que esteve apaixonado?
Eu não sei. Gosto de liberdade.
Você acha as relações muito restritivas?
Relacionamentos acontecem para todos, eles nunca podem ser um problema. Mas não é meu foco principal.
Se você tivesse uma criança ou alguém para quem você tivesse que passar valores, o que você passaria?
Deve ser por isso que não tenho filhos. Não há nada para passar, porque todo mundo tem seu próprio dom. Eu tenho um afilhado pequeno, de 3 anos e meio, gênio. Ele tem personalidade e seus pais não mandam nele. Ele adora roupas e quer tudo como eu, dorme com as luvas e vai para a escola com óculos escuros. É tão engraçado. Mas eu acredito que você tenha que encontrar seu próprio caminho. O que eu odeio em crianças é que elas colocam você em gerações. Eu não quero ser qualquer um, o pai de geração a geração, eu sou de todas as gerações.
Você já teve um animal de estimação?
Sim, mas eles morrem. Tive dois que morreram, não quero outro, é muito deprimente.
Você tem medo da morte?
Eu não poderia me importar menos. Percy Bysshe Shelley disse que a morte pode ser um despertar do sonho da vida. Mas, se você me perguntar, eu acho que é como um sono do qual você não acorda. Não se lembra depois. A única coisa que eu não quero é ser visto morto, hein? Enfim, acabou, acabou.
Band
