Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, (Curvelo, 5 de junho de 1921 — Rio de Janeiro, 14 de abril de 1976) foi uma estilista brasileira, mãe do militante político Stuart Angel Jones e da jornalista Hildegard Angel.
Nascida no interior de Minas Gerais, mudou-se quando criança para Belo Horizonte, onde começou a costurar e criar modelos, fazendo roupas para as primas, mudando-se depois para a Bahia, onde passou a juventude. A cultura e cores desse estado influenciaram significativamente o estilo das suas criações. Pioneira na moda brasileira, fez sucesso com seu estilo em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos.
Em 1947, foi morar na Cidade do Rio de Janeiro e nos anos 50 iniciou seu trabalho como costureira, quando fazia roupas principalmente para alguns familiares próximos. No princípio dos anos 70, após muitos anos de costura e ganhando um dinheiro que teve que juntar a vida toda abriu uma loja de roupas em Ipanema.
Seu estilo misturava renda, seda, fitas e chitas com temas regionais e do folclore, com estampados de pássaros, borboletas e papagaios. Zuzu também trouxe para a moda as pedras brasileiras, fragmentos de bambu, de madeira e conchas.
Trabalhando muito, com o tempo fez algumas amizades importantes no bairro e através de ajudas de pessoas ricas e bem intencionadas que reconheciam seu trabalho teve a oportunidade de expandir seus negócios e começou a realizar desfiles de moda nos EUA. Nestes desfiles, sempre abordou a alegria e riqueza de cores da cultura brasileira, fazendo sucesso no universo da moda daquela época. Suas roupas eram bem costuradas e muito coloridas, pois ela passou a, além de costurar, desenhar e pintar suas roupas. O anjo, de seu sobrenome, passou a ser uma das marcas registradas de suas criações.
Nessa época de desfiles no exterior, Zuzu conheceu o americano Norman Jones, com quem iniciou um relacionamento. Após alguns anos juntos, voltaram para o Rio de Janeiro e se casaram, mudando-se depois para Salvador, onde ela morou muitos anos. Lá, Zuzu engravidou e deu a luz a seu filho, chamado Stuart Edgar.
Confronto com a ditadura
Na virada dos anos 60 para os anos 70, Stuart Jones, filho de Zuzu e então estudante de economia, passou a integrar as organizações clandestinas que combatiam a ditadura militar instalada no país desde 1964, filiando-se ao MR-8, grupo guerrilheiro do Rio de Janeiro. Preso em 14 de abril de 1971, Stuart foi torturado e morto pelo serviço de inteligência da Aeronáutica (CISA) no aeroporto do Galeão e dado como desaparecido pelas autoridades.
A partir daí, a apolítica Zuzu entraria em uma guerra contra o regime pela recuperação do corpo de seu filho, envolvendo até os Estados Unidos, país de seu ex-marido e pai de Stuart. Como estilista, ela criou uma coleção estampada com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Zuzu chegou a realizar, também em Nova York, um desfile-protesto, realizado no consulado do Brasil na cidade.
Usando de sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak, em sua causa, e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da cidadania americana.
Foram anos em busca do corpo do filho,sem poder dar-lhe um enterro, pois o corpo de Stuart nunca foi encontrado e consta como desaparecido político brasileiro.
MORTE
A busca de Zuzu pelas explicações, pelos culpados e pelo corpo do filho só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ), hoje batizado com seu nome, em circunstâncias até hoje mal esclarecidas. O carro dirigido por ela, um Karmann Ghia, derrapou na saída do túnel e saiu da pista, chocou-se contra a mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo, matando-a instantâneamente.[2] Uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu:. "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho".
NA CULTURA POPULAR
Depois de sua morte, Zuzu foi homenageada em livros, música e filme. O mesmo Chico Buarque compôs, sobre melodia de Miltinho (MPB4), a música Angélica, em 1977, em homenagem à estilista. Em 1988, o escritor José Louzeiro escreveu o romance "Em carne viva", com personagens e situações que lembram o drama de Zuzu Angel.
Em 2006, o cineasta Sérgio Rezende dirigiu Zuzu Angel, filme que retrata a vida da estilista, protagonizada por Patrícia Pillar e com Daniel de Oliveira, Luana Piovani, Paulo Betti, Juca de Oliveira e Elke Maravilha, entre outros, no elenco.
Em 1993, a filha de Zuzu, a jornalista Hildegard Angel, criou o Instituto Zuzu Angel de Moda do Rio de Janeiro, em memória da mãe.