Macrotendências são uma espécie de dogma do comportamento humano, incontestáveis verdades reproduzidas à exaustão com o intuito de estabelecer um mapa indicativo do melhor caminho até o cerne do pensamento de cada um de nós. O problema é que assim como ajudam a prever reações, as macrotendências têm como efeito colateral a capacidade de criar costumes, invertendo sua relação natural de causa e conseqüência.
Um exemplo prático se observa durante a década de noventa, quando ocorreu um “boom” da publicidade. As oportunidades profissionais se multiplicavam em ritmo acelerado e de repente todo mundo sonhava em passar os dias pensando em frases geniais. As peças publicitárias passaram a atrair o interesse do cidadão comum, ganharam o status de arte, e assim surgiram os primeiros programas televisivos sobre o tema. Na década seguinte o que se viu foi um mercado saturado e um enorme contingente de publicitários com diploma nas mãos, mas sem emprego.
Se os anos noventa foram da publicidade, os anos 2000, definitivamente, foi da gastronomia. Foi a profissão da moda. Era impossível assistir uma hora de tv na faixa de horário de sua preferência e não se deparar com alguma referência culinária. Fora as atrações inteiramente dedicadas ao tema, também nos programas de variedades, de entrevistas e até nos jornalísticos, ainda hoje há sempre espaço para uma receitinha que seja.
Nos shopping centers, nos grandes magazines, nas lojas de rua, nos camelôs, por todos os lugares multiplicaram-se utensílios de cozinha, dos mais variados tipos em vasta gama de cores. Um sem fim de panelas, caçarolas, pinças, pincéis, conchas, espátulas, abridores, fatiadores, moedores, raladores e muitos outros, com sufixos variados e funções ultra-específicas.
Tudo isso pode ter começado a partir da “Cozinha Maravilhosa da Ofélia”… Esse programa foi responsável por catequizar donas de casa durante décadas, tendo como bíblia livros de receitas triviais, porém de muito bom gosto. Ofélia provava ser possível impressionar os paladares mais aguçados utilizando apenas o que se encontra dentro de qualquer geladeira. Nos tempos atuais o aprimoramento da fórmula “tele-cozinha” sofisticou os cardápios e encareceu a conta do mercado.