Se é prioritariamente ao longo do século XIX, no Brasil e no mundo, que a roupa ocupa lugar de elemento de distinção é porque a ela foi atribuído um determinado valor distintivo não decorrente de seu custo produtivo, mas sim resultante do binômio demanda-sacrifício, tema esse amplamente estudado pela sociologia e que confere à moda, unicamente, o status de mercadoria.
Essa exposição de distinções, ao lidar fundamentalmente com as aparências, é tomada como uma manifestação artística orientada pela decisão de um segmento cultural dominante que tem o poder de ditar os valores e, inclusive, sua morte, quando entende que se homogeneízam e, portanto, perdem o seu valor distintivo.
Apesar de incorporar (mesmo sem perceber) contribuições da teoria da informação para justificar as transições próprias da natureza desse fenômeno, a visão determinista da moda, na condição de abordagem preferida pela sociologia, hesita em compreendê-la como uma linguagem visual e, portanto, sujeita também à organização discursiva. Uma importante tentativa de argumentação sobre essa tese foi construída por Roland Barthes (2004) ao explorar as semelhanças estruturais entre a moda e a linguagem. Apontou o autor que tanto a linguagem como o vestuário são assuntos que, simultaneamente, devem ser considerados em sua individualidade e institucionalização, isto é, em seu próprio sistema e na história.
Essa correspondência permitiu-lhe explorar a língua como indumentária (cada peça de roupa individualmente), a fala como traje (a escolha pessoal de cada indivíduo, que é o que Barthes associa à idéia de moda) e, ainda, o vestuário como linguagem (o uso geral, as ofertas, as disponibilidades e as seleções), possibilitando a percepção das potencialidades expressivas de cada nível e, portanto, identificar que a significação só pode ser explorada e atingida em sua plenitude no nível do vestuário.
Para Barthes (2004), portanto, a troca social pela moda é decorrente de uma formação e oferta não voluntária (língua) e uma seleção individual (fala) para que, finalmente, se a efetive como linguagem, pois, neste caso o autor não toma a moda como uma bandeira idealista de qualquer discurso, o que deve ser percebido quando se identifica, esteticamente, aquilo que pretendemos denominar como “moda brasileira”.