De acordo com as postulações anteriores, faz-se necessário inverter o processo de análise sugerido por Barthes (2004), partindo daquilo que a sociedade em geral toma como “moda brasileira” com significação dada a priori para, em seguida, compreender que visualidade é capaz de adquirir dita conotação. Só então seria possível compreender quais visualidades são capazes de incorporar tais conceitos e comprovar ou refutar a idéia inicial de que ainda estamos relacionados às primeiras descrições estrangeiras do Brasil.
Evidentemente, tanto a materialidade quanto a modelagem da indumentária, muito embora possam existir em grande quantidade e em inúmeras combinações, se repetem em diferentes pontos geográficos e momentos históricos (o que é chamado de caráter cíclico ou espiralado, a depender do autor), de maneira que os diferentes usos e as significações que podem ser dados a um mesmo tipo de roupa se tornam um dos grandes desafios dessa área de estudos.
Quais os elementos visuais (formas, volumes, cores, texturas etc.) são propostos pelas empresas, mídias ou sujeitos legitimados para a emissão de discursos sobre a moda fosse possível decifrar todos os modos de sua codificação, qualquer investigação poderia pretender abarcar somente um determinado tempo-espaço.
Os significados que as roupas em seu uso social adquirem – o nível discursivo – têm sido investigados muitas vezes a partir do deslocamento do estudo da visualidade do objeto para a sua apropriação, ou seja, exatamente no mesmo percurso em que Barthes (2004) identifica seu funcionamento:
1) a língua;
2) a fala;
3) a linguagem, e que acaba por atribuir, à linguagem, papel preponderante sobre a designação de significados às roupas.
Essa abordagem, apesar de possibilitar a verificação da constante negociação social das significações (sempre em mutação) e a visão da moda como uma experiência capaz de materializar as trocas sociais e não somente espelhá-las, parece insuficiente para explicar a criação dos sistemas de códigos visuais que articulam trocas.
Entende-se, a partir da pesquisa exploratória, que o discurso da “moda brasileira” tornou-se mais divulgado a partir dos anos 1950 (coincidindo, obviamente, com a ampliação da ação dos meios de comunicação de massa e, de modo especial, a televisão) devido à pretensão de apresentar ao mundo a nossa capacidade criativa com base na cultura local. A visualidade que a ele se associou acabou por afirmar algumas especificidades que possibilitam sua distinção imediata de “outras modas” (como as européias ou orientais, por exemplo), mas que, na verdade, está vinculada a discursos não relativos à moda (ou eminentemente estéticos), mas que se define pelo lugar ocupado pelo país.