A TV também é uma forte plataforma para divulgar novos estilos. Dos mais bregas aos mais luxuosos, tudo chega às lojas, que inventam produtos personalizados com os nomes da personagem em questão. Na época de "O Clone" havia um grande comércio de pulseira-anel como os de Jade e com "Caminhos das Índias" foi o terceiro olho usado pelas personagens do núcleo indiano.
Com expressivos 30 anos de Rede Globo e sucessos como “Dancing Days”, a profissional responsável afirma que a influência da moda da ficção na vida das pessoas é total. “Muita gente não pode gastar dinheiro com revistas referências, como 'Elle' e 'Vogue'. Logo, elas fazem da televisão sua fonte de pesquisa”, explicou Marília Carneiro.
Começando o giro pelo mundo fashion das novelas, falar de moda e não citar a novela “Dancing Days” é praticamente como falar de música brasileira e não citar Elis Regina. A trama “disco” de 1978 revolucionou o jeito de se vestir dos brasileiros ao lançar a moda da sandália de salto plataforma usada com meias coloridas de lurex. O visual da personagem Júlia, vivida por Sônia Braga, foi tão comentado que foi parar até nas páginas da revista americana “Newsweek”.
Acertar o figurino dos personagens de uma novela é fruto de muito diálogo com o diretor e o autor da trama. “O diálogo é fundamental para compor os personagens. Nós recebemos a sinopse da novela, com o perfil de cada um, a personalidade e o que acontecerá durante a trama”, revelou a figurinista. “A partir daí, soltamos a imaginação para começar a idealizar o figurino de cada um. Nesse processo, o diálogo com o diretor é indispensável para não errar”, pontuou.
Em 1985, Regina Duarte também lançou tendência com a personagem viúva Porcina, de “Roque Santeiro”. Extravagante, o visual da perua era composto de muito pano e estampa. Porém, os lenços como enfeite na cabeça viraram sua marca registrada. O acessório ganhou as ruas em versão de tricô.
Muitos fãs de “Crepúsculo” podem não ter vivido a época do vampirismo brasileiro com a novela “Vamp”, em 1991, mas com certeza, se o tivessem, iriam se identificar com ela tanto quanto com os personagens do cinema. Na pele da sanguessuga Natasha, Cláudia Ohana usava e abusada da maquiagem carregada, com batom cor de vinho e esmalte preto nas unhas. O figurino, inspirado em sucessos do cinema como “Drácula” e “A Dança dos Vampiros”, trazia também colares com crucifixo e caveiras. A trama ganhou até álbum de figurinhas.
Em 1994, “Quatro por Quatro” trouxe Letícia Spiller na pele de Babalú e com ela, muitas roupas curtas e tamancos nos pés. A cômica manicure de “corpão violão” instigava os homens do bairro com seus tops, que deixavam a barriga de fora e suas micro-saias. Sem deixar a delicadeza de lado, Babalú sempre estava com uma margarida artificial nas madeixas, acessório responsável pelo sucesso de figurino da personagem e claro, item desejado por muitas brasileiras.
Já em 2001, nascia o fenômeno Jade, de “O Clone”, citado no início desta matéria e responsável por trazer a moda marroquina para o armário verde-amarelo. Além das bijuterias, a personagem abusava de lindos véus para cobrir a cabeça e o rosto. Os olhos eram a única parte do corpo que ficavam descobertos na rua, por isso, a maquiagem delineada virou uma de suas marcas.
Para compor Jade, Marília se baseou na coleção criada por Yves Saint Laurent, inspirada no Marrocos. “A ideia era ocidentalizar o Marrocos. Misturar a alta costura com os panos ocidentais”, contou a figurinista. Para a seleção das belas jóias exibidas na novela, Marília pesquisou os acessórios marroquinos e a designer Júlia Machado desenvolveu as peças em madeira e ouro.
No embalo da personagem Babalú, em 2003 foi a vez de Darlene, vivida por Deborah Secco, deixar as pernocas de fora na novela “Celebridade”. A garota levou os homens à loucura com suas micro-saias jeans pregueadas. No mesmo folhetim, Cláudia Abreu mostrou elegância na pele da vilã Laura, com vestidos longos e estampados, além do boá de penas de avestruz (uma espécie de echarpe). Os looks, nestes casos, eram mais contemporâneos e de mais fácil aceitação do público.
Alías, Marília declarou que prefere as tramas contemporâneas às de época. “Estou habituada a compor figurinos contemporâneos. Garimpo tudo de Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Ela também foi responsável pelo figurino das minisséries “Maysa” (2009) e “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor” (2010).
Falando em tramas contemporâneas, em 2006 “Cobras & Lagartos” foi a vez da personagem Leona, interpretada por Carolina Dieckman cair nas graças do público. A loira esbanjava sensualidade com as madeixas em tom platinado e as unhas vermelhonas. A vilã tinha um “que” de Kate Moss e vestia peças de dar inveja em qualquer mulher, como botas de salto com cano alto e roupas de elastano.
A personagem Melina de “Passione”, na pele da atriz Mayana Moura, a vilã da trama da Rede Globo era sofisticada e ousada, abusava de acessórios rock’n roll como brincos de caveira. O guarda-roupa repleto de modelos com aspecto vinil era um trabalho da estilista Glória Coelho, que deu um toque futurista à personagem de Mayana.
Além do figurino, ela tinha um dos cortes de cabelo mais cobiçados de todos os tempos: o channel dos anos 20. A moda pegou tanto que até coleção de roupas em lojas de moda com o nome de Melina foi criada. Os modelos foram assinados, claro, pela própria Glória Coelho.
No remake de “Ti-Ti-Ti”, Marília Carneiro deu um show em seus figurinos nada parecidos com a antiga versão da novela. “Eu preferi montar os figurinos a partir do perfil de cada personagem ao invés de recorrer à primeira versão, repleta de influência dos anos 1980”, disse.
A aprovação do público ela conseguiu. Cláudia Raia, na pele de Jaqueline, trouxe de volta o tamanco plataforma e as transparências. Já Guilhermina Guinle, a Luísa, era dona de um visual sofisticado e atual. Ela abusou de acessórios como pulseiras, lenços e sapatos estilosos. Um luxo!
Passando para o campo internacional, falar em luxo é lembrar-se do Upper East Side de Manhattan. No seriado “Gossip Girl – A Garota do Blog”, Serena van der Woodsen (Blake Lively), Blair Waldorf (Leighton Meester) e Jenny Humphrey (Taylor Momsen) são ícones de moda entre os jovens de todo o mundo. Com estilos diferentes, Serena é moderna e adora um mini vestido de paetês, Blair é clássica, abusa das grifes como Chanel e Dior, e Jenny, por sua vez, segue um visual rebelde puxado para o rock’n roll, com maquiagem carregada e muitos acessórios.
Para finalizar, ainda na onda das tendências estrangeiras, também não podem ficar fora da nossa moda da ficção as descoladas meninas de “Sex And The City” e a equipe da fabulosa e arrogante editora de moda Miranda Priestly, em “O Diabo Veste Prada”. Alta costura e sapatos Jimmy Choo marcaram presença em ambas as produções.