Foi justamente a beleza da mulher brasileira que fez a passagem da moda para a mídia mainstream, e do Brasil para o mundo. Logo a mulher brasileira, um de nossos maiores trunfos, juntamente com o samba e o futebol, como celebra o clichê do turismo...
Ao longo dos anos 90, tentamos ao máximo reproduzir (sem muito êxito) o estilo das passarelas européias, que tinha como modelo de apresentação a assepsia dos belgas e o minimalismo do austríaco Helmut Lang e como ideal feminino as magricelas francesas. Os desfiles internacionais glorificavam a mulher-cabide, cheia de ossos, com as pernas finas. Os braços deviam cair junto aos quadris. Que quadris ? A top model do prêt-à-porter nem tinha quadris, quanto mais bunda ! E por aqui ninguém dava valor ao produto nacional: os cachês eram baixos, e havia certo desdém pelas meninas brasileiras.
Para tentar a mesma sorte de Shirley Mallman, um punhado de modelos passou a mão no passaporte e foi tentar cachês melhores nos EUA e na Europa. Claro que, nos 15 anos anteriores, muitas já haviam trabalhado no Japão, o arquipélago dos fartos pagamentos, mas isso nunca trouxera fama a ninguém. Até que, apadrinhada pelo fotógrafo peruano Mario Testinho, uma dessas meninas, a adolescente Gisele Bündchen, começou a sobressair. Um furacão na passarela, Gisele caiu nas graças da Vogue América, mais precisamente, de sua poderosa editora, Anna Wintour.
De repente, Gisele estava em todo lugar. Conquistou o mundo com sua espontaneidade, seus traços de princesa e de garota comum, seu jeito de moleque e de sex symbol, magra e gostosa. Gisele operou uma revolução no padrão estético vigente, na moda e fora dele. Com seios fartos e quadril estreito mas arredondados, trasnformou-se na modelo que todos os estilistas queriam usar, na mulher que todas as outras queriam ser, naquela que todos os homens queriam ter. Mais que supermodel, virou uma nietzschiana übermodel (não havia mais palavras para descrevê-la, nem categorias para seu estrelato). Entrou para a lista das modelos que dispensam sobrenome (Linda, Naomi, Cindy, Christy e depois Kate).
Tornou-se celebridade, a namoradinha que o Brasil deu para o mundo. O corpo brasileiro passou a ser o objeto de desejo do planeta. Em julho de 1999, a Vogue decretava o retorno às curvas, festejando a beleza das brasileiras. Assim fizeram carreira outras meninas como Ana Claudia, Caroline Ribeiro, Isabelli Fontana, Adriana Lima, Fernanda Tavares, Mariana Weickert e Talytha Pugliese.
Pela primeira vez, então, era legal ser brasileiro. É preciso lembrar aqui que o mundo da moda (a internacional, sobretudo) é um ambiente esnobe e arrogante, em que algumas regras aparecem bem definidas e em que muitas vezes o que legitima o resto é (assim como em outras áreas) o poder do dinheiro. Por isso, precisamos vencer pelo charme.
O mundo começava a prestar atenção ao Brasil, ao nosso way of life. Sob o olhar estrangeiro, parecia perfeito: tínhamos aqui lindas mulheres, o clima era ótimo, havia a praia, o carnaval... Parece um pacote turístico, é verdade, mas era assim que o mundo nos via.