Os desfiles da alta-costura acontecem em Paris em janeiro (os de inverno) e julho (os de verão). Algumas marcas italianas desfilam em Milão, mas, quando falamos de alta-costura mesmo, é só Paris. Até no Brasil, não acredite quando algum estilista disser alto e bom som que faz “alta-costura”. Ele pode tentar, no máximo, um prêt-à-porter de luxo ou uma moda inspirada na couture.
É que a alta-costura atende a pré-requisitos complexos em termos operacionais (número de empregados no ateliê, por exemplo) e de excelência (como a qualidade do artesanato, a nobreza de materiais, a mão-de-obra apurada). Tem técnicas complexas e específicas de construção e modelagem. Um só vestido pode exigir até 150 horas de trabalho e conta com manufatura super-especializada. Por exemplo, uma pessoa que cuida só dos botões, ou outra que trabalha apenas o volume da saia. É realmente único.
Depois dos desfiles, as clientes vão pessoalmente aos ateliês dos estilistas ou os recebem em casa com tratamento VIP - mas o mais glamouroso é ir até lá, claro, para poder contar com toda a pompa. Par aos mais ocupados, como os rock stars, um manequim é elaborado a partir das medidas, e assim o cliente não precisa ir fazer as provas. O ateliê é considerado um grande laboratório. Ele pode ser dividido em flour, de onde vêm os vestidos, e tailleur, de onde vêm os mantôs e blazers. Cada ponto a mão é feito por uma assistente treinada dentro de um sistema hierárquico. Após anos de aprendizado, ela poderá tornar-se, finalmente, a première do ateliê, ou seja, a profissional mais importante depois do estilista.
Estima-se que o número de compradoras de alta-costura no mundo hoje não ultrapasse 500 (para termos uma idéia do declínio, em 1980 eram 2 mil). São milionárias, socialites, princesas árabes e, mais recentemente, estrelas do cinema e da música, que não podem dar-se ao luxo de encontrar outra mulher numa festa com o mesmo vestido. Com uma roupa de alta-costura, isso nunca acontecerá. De toda forma, muitas mulheres nem chegam a usar seus vestidos de milhares de dólares. Algumas compram as roupas da couture apenas para tê-las, como uma obra de arte ou um carro antigo.
Que não se pense, entretanto, que a alta-costura é feita só de vestidos de festa. A modernização desse setor abarca também peças para o dia, a Karl Lagerfeld desfilou no inverno 2002 para a maison Chanel uma coleção constituída somente de calças compridas, inspiradas na figura da estilista Coco Chanel (1883-1971). Além disso, a alta-costura, ao fortalecer os nomes dos estilistas, impulsiona a indústria de perfumes e cosméticos e a de lenços, óculos e acessórios em geral.
Por fim, são cada vez mais comuns os leilões de roupas de alta-costura. Elas vão para museus, faculdades e escolas, ou para colecionadores particulares.