Nos anos 70, a moda começa a se profissionalizar no Brasil. As boutiques que ditaram moda nos anos 60 vão se firmando e criando suas próprias confecções.
Trata-se da primeira geração de “escolas de moda”, no final dos anos 1980, com a instalação de três cursos superiores em São Paulo, oferecendo diplomas de bacharel. A explosão da moda brasileira, contextualizada, abre caminho para um outro boom, o dos cursos superiores de moda, no mesmo período. Eu fiz parte da primeira turma do Curso Superior de Moda na Universidade Anhembi Morumbi e lembro-me que nosso maior sonho era justamente o de ver o Brasil em um outro patamar no mundo da moda, onde ele hoje está, lançando moda e grandes nomes.
Na França, foi nos anos 1970 e 1980, que a moda alcançou plena legitimidade acadêmica. No Brasil, houve um precedente notável, com a defesa da tese de mestrado O espírito das roupas, de Gilda de Mello Souza, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que nos anos 1980 foi publicada, uma espécie de marco inicial dos estudos sobre a moda, produzidos pela academia brasileira.
No Brasil, os anos 90 começaram trazendo os novos ventos da abertura de mercados, iniciada na era Collor, o vendaval do impeachment, as primeiras tentativas de estabilidade econômica e o Plano Real, com FHC.
Apoiado pela indústria têxtil, que começara a tentar modernizar-se, um punhado de estilistas percebeu nisso tudo um potencial de exportação, em que se incluía uma possibilidade inédita de entrar no cenário fashion global, já que, por conta de uma nova realidade cambial, os produtos brasileiros se tornavam mais competitivos. Pela primeira vez, seria possível ganhar um pouco de prestígio e talvez, com sorte, alguns dólares.
O primeiro a ter tentado uma trajetória internacional foi Alexandre Herchcovitch. Em 1997, encheu uma mochila com suas roupas e foi bater à porta das lojas de que gostava em Nova York, como, por exemplo, a descolada Patrícia Fields. Apoiado pela Zoomp, para quem então desenhava, aventurou-se a apresentar um desfile, idêntico ao que mostrara em São Paulo. Primeiro desfilou em Londres, em 1999, fora da semana oficial; acabou sendo aceito e, em 2000, trocou a London Fashion Week por Paris, convidado pela Chambre Syndicale du Prêt-à-Porter. Agradou com um mix de manufatura e tecnologia e foi elogiado pela editora Suzy Menkes, que passou a ir a seus desfiles e visitar seu showroom
Fause Haten desfilou primeiro em Los Angeles, sob as asas da Giorgio Beverly Hills, e depois em Nova York, durante a Seventh on Sixth. Tufi Duek criou uma grife que leva seu nome para lançar-se em território americano, abrindo um showroom no SoHo nova-iorquino. A marca de moda praia Rosa Chá, aproveitando uma abertura habilmente feita por meio de revistas e editoriais de moda, passou a apresentar-se na semana de desfiles de Nova York.
No finalzinho dos anos 90, o interesse do mercado externo pelo produto de moda brasileiro estava finalmente desperto. Com isso, o círculo (colonizado) se completou: ora, se o mundo está interessado no Brasil, é porque realmente o que temos aqui é bom.
Em 2000, nunca se ouvira falar tanto de moda brasileira no mundo, o que virava pauta de reportagens e editoriais de moda. Aos poucos, e aos solavancos, começaram a vir os jornalistas estrangeiros. Primeiro os interessados mais na festa do que na passarela, e depois os sérios, preocupados em reportar a ebulição que, de fato, acontecia por aqui.