O Future Concept Lab é um instituto de pesquisa e consultoria estratégica, localizado na Itália, onde são feitas análises das chamadas real trends, ou seja, dos fenômenos que nascem nas ruas, representando a realidade do dia a dia. Com sede em Milão, fundada há 20 anos por um grupo de sociólogos, contam, atualmente, com cerca de 50 correspondentes espalhados por 40 cidades pelo mundo. Valentina di Francesco é uma coolhunter, correspondente do Future Concept Lab, e retrata em entrevista para o instituto como iniciou sua carreira de caçadora de tendências e como funciona um pouco de seu trabalho.
“Eu sempre era aquela que chegava antes, e sempre me agradou estar 15 minutos antes nos lugares, com a desculpa de ver as pessoas que passam, ou parar para escutar as conversas de lado e entender as pessoas que estão em volta. Foi sempre uma coisa muito prazerosa. Depois, certamente, tive a sorte de encontrar essas pessoas que me possibilitaram isso."
Seu trabalho é muito interessante e detalhado. São 40% de trabalho em campo e 60% do chamado antes e depois. Antes há uma preparação sobre a temática que será trabalhada após ser feita a pesquisa pela cidade; Depois é uma fase de seleção de imagens, definição de ligações, como contar a história do lugar para, aqueles que recebem a análise, entenderem a seqüência de conceitos de maneira correta. Saber selecionar em 300 imagens, por exemplo, aquelas que mostrarão claramente como é Milão, hoje, não é uma tarefa simples.
A agência de análise de tendências americana Look-Look buscou inovar seus métodosde pesquisa, uma vez que a tecnologia, invadindo de maneira veloz o dia a dia dos jovens, dificultou a atuação dos profissionais. Portanto, essa empresa possui um diferencial: atua virtualmente. Elas estimam que possuam, atualmente, 20 mil contatos, com o número aumentando a cada mês. As proprietárias trabalharam para a agência Lambesis, todavia, inconformadas com os métodos de pesquisa, decidiram deixar a empresa que oferecia papéis e canetas para o preenchimento de questionários, enquanto os adolescentes usavam mensagens instantâneas e pagers. Sabendo que os jovens estão em constante mudança, e a melhor maneira de entrar em seu universo é através da internet, construíram seu próprio negócio. Assim, correspondentes entre os 14 e 30 anos – faixa etária que a empresa considera ainda crianças – enviam informações de festas, concertos, e imagens (com câmera digital fornecida pela Look-Look), e contam seus interesses e expectativas do futuro. Isto tornou a troca de informações mais acelerada e o tempo de pesquisa, criação e venda dos produtos mais rápidos, o que levanta questionamentos, como a limitação do trabalho dos coolhunters. Em tempos passados, as tendências se propagavam lentamente, através do boca a boca. Hoje em dia, as tendências se espalham através de e-mails, de mensagens instantâneas, e os pesquisadores buscam novidades a cada segundo.
Pode-se questionar se, atualmente, com tantos consumidores sintonizados nesse mundo virtual e ligeiro, atinge-se um momento em que não se pode mais diferenciar o cool do não-cool. Ou se, ao detectar algo cool, propagado tão rapidamente, o objeto não-cool torna-se cool também. Como perceber esta barreira já que a velocidade de difusão das tendências é tão veloz ?
Empresas questionam o trabalho dos coolhunters, pois quando o cool é detectado e transformado em produto de consumo, logo se torna ultrapassado e perde seu interesse, tornando mais intenso o trabalho do pesquisador.
Finalizando, é natural a sociedade sofrer mudanças, mas o que se espera é a alteração e adaptação dos métodos de agir e de trabalhar dos coolhunters, adequando-se às transformações sociais, com novos meios para se analisar os indivíduos. Além disso, a indústria da moda passa por oscilações, decorrentes do clima econômico, podendo variar na velocidade com que se renova. Dessa maneira, certamente, o trabalho dos coolhunters não se extinguirá, irá apenas ter novos objetivos, novos artifícios para se manterem continuamente ativos.