Apoiado pela indústria têxtil, que começara a tentar modernizar-se, um punhado de estilistas percebeu nisso tudo um potencial de exportação, em que se incluía uma possibilidade inédita de entrar no cenário fashion global, já que, por conta de uma nova realidade cambial, os produtos brasileiros se tornavam mais competitivos. Pela primeira vez, seria possível ganhar um pouco de prestígio e talvez, com sorte, alguns dólares.
O primeiro a ter tentado uma trajetória internacional foi Alexandre Herchcovitch. Em 1997, encheu uma mochila com suas roupas e foi bater à porta das lojas de que gostava em Nova York, como, por exemplo, a descolada Patrícia Fields. Apoiado pela Zoomp, para quem então desenhava, aventurou-se a apresentar um desfile, idêntico ao que mostrara em São Paulo. Primeiro desfilou em Londres, em 1999, fora da semana oficial; acabou sendo aceito e, em 2000, trocou a London Fashion Week por Paris, convidado pela Chambre Syndicale du Prêt-à-Porter. Agradou com um mix de manufatura e tecnologia e foi elogiado pela editora Suzy Menkes, que passou a ir a seus desfiles e visitar seu showroom. Herchcovitch está encaminhado e tem futuro.
Fause Haten desfilou primeiro em Los Angeles, sob as asas da Giorgio Beverly Hills, e depois em Nova York, durante a Seventh on Sixth. Tufi Duek criou uma grife que leva seu nome para lançar-se em território americano, abrindo um showroom no SoHo nova-iorquino. A marca de moda praia Rosa Chá, aproveitando uma abertura habilmente feita por meio de revistas e editoriais de moda, passou a apresentar-se na semana de desfiles de Nova York.
No finalzinho dos anos 90, o interesse do mercado externo pelo produto de moda brasileiro estava finalmente desperto. Com isso, o círculo (colonizado) se completou: ora, se o mundo está interessado no Brasil, é porque realmente o que temos aqui é bom. Então, viva a moda brasileira !
Em 2000, o clima de euforia. Nunca se ouvira falar tanto de moda brasileira no mundo, o que virava pauta de reportagens e editoriais de moda. Aos poucos, e aos solavancos, começaram a vir os jornalistas estrangeiros. Primeiro os interessados mais na festa do que na passarela, e depois os sérios, preocupados em reportar a ebulição que, de fato, acontecia por aqui.
Com o maior número de correspondentes internacionais, a temporada verão 2001 marcou a entrada num novo tempo da moda brasileira. A afluência dos veículos internacionais naquela estação fez com que, de repente, a cultura brasileira virasse “tendência” e os “temas” brasileiros inspirassem os estilistas. Houve um número recorde de desfiles (89), incluindo-se no circuito, além de São Paulo, as capitais Rio e Belo Horizonte. No Morumbi Fashion Brasil, criaram-se um dia para moda masculina e outro para a moda praia, na tentativa de confirmar esse segmento como um dos principais focos externos da produção nacional.
Por fim, foi a temporada em que a mídia e o público deram um basta à cultura da cópia. A partir do momento em que as peças internacionais já estão à venda nas lojas de luxo do Rio e de São Paulo, em que a mídia faz correr informação de moda nos jornais, nas revistas e na Internet e em que os próprios editores estrangeiros estão aqui como testemunha, não há mais espaço para que os criadores brasileiros façam aquilo que o mundo todo faz (e que as raízes colonizadas de nosso país legitimaram): o plagio. A moda made in Brazil vai, dentro do possível, fincando pé na autenticidade e encontrando a sua cara.
Para tentar consolidar a temporada brasileira, saiu de cena o Morumbi Fashion Brasil e entra a São Paulo Fashion Week. A primeira edição do evento, com novo nome, acontece em janeiro de 2000, com as coleções de inverno. A idéia é também desconectar a dinâmica de shopping a cultura de moda no país, algo que os jornalistas internacionais não entendiam. Ainda para tentar agradar ao mercado global, há uma intenção de unificar as semanas de lançamentos do Rio e de São Paulo, orientando o verão para o Rio e o inverno para São Paulo. São planos do diretor Paulo Borges, a serem concretizados na temporada de verão 2003.