Atualmente, é preferível usar “grupos”, ou mesmo “subgrupos”, em lugar de tribo. Isso porque o próprio conceito de tribo caducou. O que derrubou a tribalização foi a consolidação do conceito de “supermercado de estilos”. Esse nome foi criado na década de 90 pelo historiador inglês Ted Polhemus, e sua idéia central é muito importante para a compreensão da moda das ruas.
Segundo Polhemus, “supermercado de estilos” é como se todo o universo, todos os períodos que você jamais imaginou, aparecesse como latas de sopa numa prateleira de supermercado: “Você pode pegar os anos 70 numa noite, os hippies em outra [...], um moicano punk e um rímel dos anos 60 [...] e, pronto, você tem a sua própria e sincrônica amostragem de 50 anos de cultura pop”.
À medida que os anos 90 passavam, via-se o crescimento de tendências e estilos cada vez mais difíceis de categorizar, resultando numa multiplicidade de modas. Hoje, a complexidade de mensagens da aparência (dos jovens) torna impossíveis — ou um exercício absurdo — as transcrições literais dessas mensagens, escreve o pesquisador.
As pessoas passaram a misturar tudo, brincando de confundir os olhares nas ruas e dificultando os estereótipos. Aparecem cybermods, techno-hippies, neogóticos e o que mais a imaginação e o humor puderem alcançar. Também é comum nos centros urbanos uma garota que durante o dia é patty, à noite é clubber, amanhã sai de chique, e por aí vai. Nos anos 2000, a idéia de precisar pertencer a determinado grupo perdeu sua legitimidade. Cada um faz o que quer — ao menos com sua própria imagem, e aí está metade da graça da moda e da expressão pessoal por meio das roupas.
Graças a essa mistura de informações visuais e à ausência total de preconceitos, junto a legítimas e criativas soluções de moda (o dinheiro sempre curto dos jovens...), o prêt-à-porter e a alta-costura vêem que há motivos de sobra para prestar atenção na juventude. Além disso, ela é um valor a perseguir: todo mundo quer ser jovem, sentir-se jovem, vestir-se com a roupa dos jovens.
Como palco para todas essas manifestações, a cultura das pistas de dança surge como o ambiente mais propício para a explosão da moda jovem: ali, é possível experimentar personagens, materiais, atitudes e, claro, a música eletrônica, língua franca da juventude globalizada.