O Terceiro Milênio
No início do século XXI, a permanente fabricação do novo e a aceleração do consumo migraram da moda para a indústria da alta tecnologia. Os novos softwares, os últimos modelos de telefones celulares, etc.
Na virada do ano 2000, a influência dos anos 1980 e tudo que se relaciona a esse período parece cheio de frescor e rebeldia, período conhecido como pós-modernidade. A sistemática releitura do passado realiza-se por meio do citacionismo, característico tanto na arquitetura, quanto na moda ou na música, em que signos sem significado apenas indicam uma vontade de atualizar o passado, de fazer dele uma experiência individual, deixando de ser um ponto de referência imutável para tornar-se objeto de reconstrução, de reinterpretações sucessivas.
Enquanto o setor têxtil lutava por sua própria sobrevivência e para sobrepujar a grande crise da abertura ao mercado externo, uma outra indústria, correndo por fora, acabou por tornar-se a grande vedete das esferas ligadas à aparência pessoal: o setor de perfumaria, cosmética e produtos de higiene e limpeza. No período de 1997 a 2002, em que o País teve um crescimento econômico próximo de zero, a taxa média de crescimento do setor foi de 7,6% ao ano.
A Cosmoprof, feira internacional da indústria cosmética realizada anualmente em São Paulo, é a segunda maior do mundo, atrás somente daquela realizada em Bolonha, na Itália. Os brasileiros estão entre os seis maiores consumidores de produtos de beleza do planeta.
O interesse crescente pelo corpo é uma das muitas formas de dominação que o capitalismo inventou para exercer poder sobre o indivíduo. O culto à aparência inscreve-se numa linha que contém as formas de punição e de vigilância, as técnicas modernas de divisão do trabalho, a mecanização das atividades humanas, as imposições da moda, até chegar à ditadura da magreza e do corpo perfeito, que vivemos, talvez com maior força, no Brasil.
O indivíduo investe-se do poder da mudança e brinca com o seu próprio corpo, pinta, desenha, rabisca, fura, aumenta, diminui, veste, despe, perfuma, depila, como suporte irredutível da expressão de suas escolhas.
A tendência de fundo em que se constitui a busca por juventude e saúde, no mundo todo, encontra terreno mais do que propício para florescer no Brasil, país onde o culto ao corpo e à higiene pessoal atinge dimensões inéditas, cria-se o contexto favorável, seja pelos movimentos socioculturais globais, seja pela dinâmica própria da cultura brasileira, o desenvolvimento sem precedentes da indústria cosmética.
A tomada de partido pelo posicionamento ecológico-natural no nível institucional da Marca Brasil é uma das maiores forças do país aos olhos do mundo e até internamente, no entanto, as estratégias de posicionamento adotadas são muito parecidas, podendo causar confusão entre elas. Interpreta-se o discurso “natural” quase sempre da mesma maneira.
Há uma falta de risco e de inovação que podem ser letais para a perenidade das marcas. A cadeia inglesa Lush, cujo discurso, extremamente diferenciado, funde o natural ao artesanal, cobrindo duas sensibilidades fortes do presente e inovando em termos de posicionamento.
A identidade brasileira possui muitos outros atributos que poderiam ser explorados positivamente na criação de uma imagem, sem privilegiar apenas o aspecto ecológico-natural, mas sem abrir mão dele.
O que fascina o mundo não é o nosso estigmatizado “jeitinho”, mas simplesmente o nosso jeito de ser.
Em meados de 2003 o revival atingiu o seu ponto máximo de difusão, o que significa dizer que daqui por diante o declínio dessa tendência é certo.
O tema do corpo revela-se central na pesquisa avançada de novas estéticas. Pode-se afirmar que o interior de uma roupa ou de um acessório seja a sua alma e, no jogo das representações de si, torna-se parte da nossa identidade. O jogo se presta a possibilidades infinitas de pesquisa e de interpretação. Nesta perspectiva, o aspecto decisivo da relação entre interior e exterior pode ser traduzido em termos de construção da peça, superfícies e texturas da matéria, ligando-se desse modo às características principais do mundo dos cosméticos: a elaboração de tratamentos que garantam um resultado estético (exterior) e curativo (interior) ao mesmo tempo.
A projeção da moda caminha com a glamorização da beleza, entendida como a proposta sazonal de looks (cabelos, pele, maquiagem) que deixam de ser acessórios para transformarem-se em protagonistas. O fenômeno top model emerge como inequívoco padrão de beleza para as meninas globalizadas, enquanto cabeleireiros tornam-se hair stylists e maquiadores, beauty artists. A indústria cosmética e de perfumaria não conhece crise e para ela convergem, buscando lucros, todas as principais marcas e criadores internacionais de moda.
A indústria alimentícia conhece a revolução que começa na mudança dos hábitos alimentares. Comemos em menores quantidades, com pressa e, freqüentemente, em movimento. Exigimos mais qualidade, valorizamos os produtos com origem conhecida, queremos uma alimentação mais saudável e natural. Conhecimentos antes reservados aos técnicos, como a quantidade de calorias dos alimentos, difundem-se com rapidez. Multiplicam-se os cursos para goumerts, os chefs alcançam status de verdadeiras estrelas. A gastronomia tornou-se a nova moda.
O sucesso agrícola brasileiro, com o aumento de produtividade no campo que levou o País a ser, em 2003, o maior produtor mundial de soja, a ter o maior rebanho bovino e o maior exportador de carne bovina do planeta. A agricultura se torna um trunfo brasileiro nas negociações com a comunidade internacional para a formação de blocos de livre-comércio.
O cotidiano apressado generalizou o fast food e os distúrbios alimentares de todos os tipos assombram o império do corpo. A indústria alimentícia tem um papel fundamental a cumprir, para responder com responsabilidade a seus interesses e aos da sociedade.
As etapas civilizatórias da mecanização e da informatização elevaram em progressão geométrica as forças produtivas disponíveis. A nova corrida pela liderança entre as grandes potências dá-se no campo da genética. São os segredos da vida que desenham a nova fronteira de expansão do capitalismo. No Brasil, a moda foi uma descoberta bastante recente e um setor que se organizou rápida e tardiamente.
A definição das tendências, durante cem anos, dependeu quase exclusivamente das visões de moda propostas pelos costureiros franceses. Das passarelas e casas parisienses vinham os modelos comprados pelos grandes magazines para confecção, que eram reproduzidos pelas revistas e simplificados pelas costureiras do mundo todo. As publicações de moda tornaram-se numerosas a partir do século XX, fartamente ilustradas por desenhos ou pelo uso da fotografia. Os principais veículos de difusão da alta-costura: a revista Harper’s Bazaar fundada em 1867 e a VOGUE, fundada em 1892; o cinema com a ligação entre as estrelas de Hollywood e os costureiros franceses.
A moda brasileira, cada vez mais prestigiada no mercado internacional, tem São Paulo como grande referência econômica e de estilo. O São Paulo Fashion Week ganhou reconhecimento internacional, fazendo parte do calendário de lançamentos de moda em torno do mundo. O Rio de Janeiro oficializou-se na moda com o evento Fashion Rio, exibindo coleções como outro pólo criador da moda nacional, com destaque para o segmento de beachwear (moda praia).
É mais do que normal, é imperativo que o homem especule sobre o que está por vir, pois fazer previsões é uma forma de controlar a vida e de confrontar a experiência da morte que trazemos no inconsciente.
Esse imaginário da mudança se alastrou e acabou por favorecer o interesse pelas tendências. No mundo de hoje, “sempre fizemos assim” perdeu o sentido. Agora, é “nunca fizemos assim”. Esta é a regra, não a exceção. A mudança é o novo estado normal das coisas. Afinal, qual a diferença entre “ser normal porque se segue a tradição” ou “ser normal porque se adota a mudança”? Em ambos os casos, a única coisa que parece importar é fazer como os outros, para estar dentro do padrão de normalidade. Alguns intelectuais tem chamado atenção para essas novas e sutis formas de controle social.
Na última década, a indústria brasileira do vestuário tem sofrido grande impacto com o processo de globalização dos mercados. A produção nacional voltada quase exclusivamente para o mercado interno, as importações de artigos de vestuário viveram um boom no mercado brasileiro, desde a abertura da economia em 1991, em sua maioria da Ásia. O cenário foi alterado em 1999 com a mudança na política cambial brasileira e atualmente a indústria do vestuário procura o equilíbrio.
Começamos década, século e milênio, mas, ao contrário do que se pensava nos anos 60, não estávamos vestidos de astronautas. O grande marco zero do século são mesmo os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 aos EUA, que precipitam aquele país na recessão que já se vislumbrava e mudam radicalmente os valores da moda.
É o fim do luxo ostensivo e do glamour extravagante. Tudo isso fica fora de ordem. Da noite para o dia, instala-se uma nova cartilha fashion. Os conceitos mudam. Entram em pauta romantismo, ingenuidade, inocência, suavidade, poesia, calma, amor e até mesmo uma nova forma de filosofia hippie, no velho modelo do “faça amor, não faça a guerra”.
A indústria da moda deve adaptar-se e preparar-se para mudanças. Segundo pesquisas da DuPont, as pessoas compram roupas nesse novo milênio buscando, nesta ordem:
1. Conforto
2. Facilidade para cuidar (materiais)
3. Durabilidade
4. Estilo