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Julia Petit desfilou no último dia da Casa de Criadores Foto: Divulgação |
A 30ª edição da Casa de Criadores, que ocorreu no Cine Jóia, na Liberdade, terminou ao som de tambores japoneses e banda de rock 'n' roll, com as apresentações de Arnaldo Ventura e Sumemo. Assimetrias, cores profundas, leggings para homens e mulheres, peles e alfaiataria bem feita foram as principais tendências da noite. Houve ainda a final do concurso Ponto Zero, cuja vencedora foi a dupla de estudantes Isadora Zendron e Lucas Devitte, da Faculdade Anhembi Morumbi.
A Sumemo, em sua terceira apresentação no evento, encheu - literalmente - o pequeno palco da casa de espetáculos com sua banda de rock e as dezenas de modelos e amigos convidados - entre eles Alex Atala, Julia Petit, Dudu Bertholini e a ex-loira Vivi Orth com os cabelos castanhos escuros. Todos vestiam as peças com a tradicional pegada despojada e rebelde, atendendo ao universo streetwear fashion da marca. O diferencial, porém, foi a mão do estilista Marcelo Sommer na criação da coleção, cuja inspiração foi o mote "do lixo ao luxo". Sem dúvida, um salto na qualidade para os praticantes de skate.
Com alfaiataria precisa, as peças vieram mais sólidas e com mais apelo de moda. Bermudas, jaquetas, calças, saias, jaquetas e vestidos se misturavam às tachas e estampas de caveira e soco inglês, numa bem elaborada coleção feita com os mesmos elementos de sempre, como jeans, couro, moletom e malha. Destaque para as leggings metalizadas ou com estampas de cobra.
Oriente
Arnaldo Ventura, em seu sétimo desfile na Casa de Criadores, colocou no palco tambores japoneses tocados pelo Grupo Shinkyodaiko, de São Caetano. O som potente dos instrumentos guiava os modelos pelo palco, com sua indumentária inspirada nas roupas dos países orientais, com Japão, China, Mongólia, Turquia e Egito. Os tradicionais quimonos foram destruídos e reconstruídos trazendo volumes inesperados e fendas. Ressalta-se o impecável acabamento das peças masculinas e femininas.
A rigidez das estruturas orientais misturada à leveza das peças feitas de malha e elastano criou um desejável contraste nas formas, ora largas e amplas, ora justas, como os macacões e leggings. Tudo emoldurado com as duas belas estampas - as tradicionais flores japonesas em jacquard e a inspirada nos circuitos dos computadores. Destaque para os sapatos masculinos forrados com jacquard estampado e para os tricôs pretos.
Avesso
O estilista Jader Raniere resolveu mostrar a parte de dentro das roupas masculinas e femininas, deixando do lado de fora forros, etiquetas e alinhavos. Ao expor o lado escondido das roupas, o criador deixa a zona de conforto e prova que o lado de dentro é tão importante na construção das roupas quanto o que se vê, o que é exposto.
Jader obteve boas imagens ao vestir alguns modelos, masculinos e femininos com peças feitas de tecidos diferentes - como malha simples, dublada e elastano -, mas a mesma estampa de riscos geométricos. Ótimo efeito também nas peças construídas com lã tecida e tricô, num jogo de cores que incluía marrom, cinzas, roxo e cobalto. E nos cetins superdrapeados aplicados em peças masculinas e femininas.
Drapeados
A grife Jacinto, da dupla Gláucio Paiva e Douglas Pranto, que pulou do Projeto Lab para o line-up principal, mistura elementos do folk europeu com as formas arredondadas da arquitetura de Oscar Niemeyer para criar peças com apelo minimalista e bons resultados nos drapeados justos rente ao dorso e ombros. Destaque também para as maxipedras retangulares de vidro espelhado, que enfeitavam algumas peças e lembravam janelas de edifícios. A cartela de cores vai do off-white ao preto, com ênfase nos marrons e amarelos. Vestidos pelo joelho ou mínis são feitos em patchwork de camurça e couro sintéticos. A veia criadora da dupla revelação de duas edições atrás mantém-se, como nas assimetrias proporcionadas por mangas únicas em algumas peças, mas caminha por uma via mais comercial. "Abrimos loja e temos de atender o que a mulher quer usar", disse Douglas.
Claro, é preciso sobreviver, fica o conselho, mesmo tendo a preocupação de escolher cartela de cores para o forro das peças, é preciso atenção ao acabamento, principalmente das barras. Ao contrário de uma passarela colocada no mesmo nível da cadeira da plateia, o palco alto do espaço revela ainda mais esses detalhes de finalização.
Futurismo retrô
A impecável modelagem de Rober Dognani também sofreu um pouco com alguns detalhes de acabamento, como barras grossas no neoprene leve e algumas linhas soltas no lurex de seda dourado. O estilista é muito bom ao trabalhar com tecidos diferenciados e luxuosos. Provou isso mais uma vez na linha minimalista adotada especialmente com o lurex francês, que fazia as vezes de malha de metal usadas na usadas na Idade Média, uma de suas inspirações, e no cetim com elastano. Ambos traziam uma silhueta fluida, rentes ao corpo ou com movimentos.
Já o neoprene menos rígido serviu principalmente para as roupas inspiradas no trabalho do estilista Rudi Gernreich. O futurismo do figurinista americano de filmes de ficção científica dos anos 50 a 70 apareceu por meio dos vestidos rentes ao corpo, que podiam ter leves volumes em mangas ou golas. Couro molengo e assimetrias em pernas e braços vestidos de um lado só marcaram a coleção. Dois destaques. O último look: uma espécie de body que se transforma em uma capa atrás, criando uma peça híbrida entre vestido e macaquinho, com volume oferecido pelo cetim com elastano dourado. Outro: os cintos coleiras de couro com pedras e metal, unidos por faixa vertical central. Peça que deixa qualquer peça básica com cara fashion.
Ponto Zero
O concurso Ponto Zero, feito com estudantes de moda, premiou a dupla Isadora Zendron e Lucas Devitte, que fez um belo trabalho de modelagem e elaboração nas peças femininas feitas principalmente de lã feltrada, usada nos cobertores de campanha. Plissado, recortes e geometria marcaram a coleção dos futuros estilistas, que partiram de uma pesquisa na tecnologia da guerra. Daí as formas irregulares de algumas peças inspiradas em tanques de guerra. Tudo muito cinza, com nuances de bordô, azul e preto.
por Rosângela Espinossi
Fonte: Terra