Ou melhor, nasce um ícone fashion. Ele foi um dos primeiros a perceber que a renovação de estilo também valia para aparelhos eletrônicos.
Além de revolucionar as indústrias fonográfica com iTunes, de animação gráfica com a Pixar e todo o mercado tecnológico e de computadores, Steve Jobs também teve imensa influência no modo como a gente se relaciona com seus produtos através de sua imagem.
Hoje a Apple exerce a mesma influência do que uma grande marca de moda como Gucci ou Prada e Steve Jobs foi um dos primeiros a perceber que aquela lógica de renovação e inovação constante que define o conceito de moda também se aplicava a seus aparelhos eletrônicos. Quase que numa versão contemporânea da máxima do design de forma seguindo função em busca de soluções para problemas cotidianos, os produtos da Apple têm na chave de seu sucesso a combinação de uma mentalidade de moda, com todo seu poder imagético, aliada ao desempenho e à funcionalidade tecnológica.
Ao lado do designer e diretor de arte Jonathan Ive, na empresa desde 1997, Jobs transformou computadores e aparelhos eletrônicos em verdadeiros objetos de design. Assim, revolucionando o modo como nos relacionamos com tais produtos e também como nos apresentamos, nos enxergamos e vemos o mundo com e através deles.
Não foi só na tecnologia que Steve Jobs fez história. No mundo fashion ele também virou ícone justamente por contrariar a maior regra da moda: não repetir roupas. Afinal, o look adotado por Jobs permaneceu o mesmo ao longo dos anos, tornando-se marca registrada do ex-executivo-chefe da Apple.
Em todas as keynotes – apresentações de produtos e lançamentos da empresa – Steve surgia com sua calça jeans, tênis branco e a camiseta preta, que variava na modelagem – com gola alta ou mangas compridas. O visual foi repetido à exaustão, chegando até a ser cogitado – em brincadeiras na internet – que Steve teria um guarda-roupa repleto com peças idênticas.
Steve Jobs criou a cultura dos gadgets, reinventou a relação de todos com a música via seus iPods e fez do fone de ouvido branco um acessório onipresente. Com iPads e iPhones, ajudou a reinventar a comunicação e, de quebra, virou de cabeça para baixo também a criação de imagem de moda - seja através do Instagram, aplicativo específico do celular da Apple, ou via revistas que se reinventaram à realidade animada do iPad.
Era dono também um senso de estilo muito particular, que fez dele um ícone involuntário da moda. Aboliu o dresscode do terno-e-gravata, ao adotar um jeito de se vestir mais casual - que abriu tanto espaço até chegar em Mark Zuckerberg, criador do Facebook, que não vê problemas em abrir reuniões vestindo moletom.
Sempre adotou uma ironia aparente no vestir, que deixava Bill Gates para trás. Era formal, mas de uma maneira desarrumada, com suas gravatas borboleta e coletes. E quando era casual, não era desleixado demais. E daí veio sua imagem mais conhecida - e o ícone máximo do seu guarda-roupa, a blusa preta de gola rulê.
Adotada desde os anos 1970, a indefectível blusa fez parte do seu figurino desde então. Na última década, quando reassumiu a Apple para tranformá-la na potência que é hoje, Jobs manteve a peça em todas suas apresentações de produto - sempre devidamente acompanhada de jeans surrados (sem cinto) e tênis de corrida brancos.
Peças de sorte? Pode ser. Jobs tinha suas marcas favoritas. As calças eram clássicas 501 da Levi's - os mais aficcionados juram que era o mesmo jeans desde os anos 1980, marcado com um buraco no tecido em uma das pernas. Os tênis, New Balance 991 - substituídos uma única vez, em 2002, por um par da Nike, quando anunciou a parceria da marca com o iPod.
A gola rulê, dizem, custa 200 dólares na St. Croix, loja masculina de Minnesota. Mas há uma lenda nunca confirmada (nem desmentida) pelo criador que diz muito sobre sua figura:
Jobs teria encontrado uma blusa perfeita, do estilista japonês Issey Miyake, que era a última peça da loja. Ele então teria ligado para a grife para comprar outra peça, que estava fora de linha. Jobs teria dito, então: "quantas vocês precisam produzir para que eu possa comprar uma nova?". Por isso, teria um armário cheio de blusas iguais.
Mesmo sem grandes ligações com a indústria, e sem se vestir tão bem assim, Jobs morre como o ícone mais improvável da moda nesta primeira década dos anos 2000 e essa maçanzinha ainda vai aparecer em muitas passarelas.